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“O Poeta falou

Que São Paulo enterrou o samba

Que não tinha gente bamba

e não entendi porque

(...)

me perdoa poeta, mas discordo de você.”

 

 

 

 

 

 

A letra de “Me Perdoa Poeta”, 1987, de Leci Brandão e Reinaldo, contesta a frase dita certa vez pelo poeta carioca, Vinícius de Moraes, em que São Paulo seria “o túmulo do samba”.

 

 

 

 

“Me perdoa poeta”, mas em São Paulo o samba vive e passa bem.           

 

 

 

 

 

 

 

 

O Samba Paulista é um gênero musical que tem suas raízes ligadas ao interior de São Paulo. A origem é a mistura de ritmos africanos, trazidos por escravos que trabalhavam nas lavouras de café do estado. Um samba rural, improvisado e marcado com batidas de bumbo.

 

Esse foi apenas o despertar do ritmo na terra da garoa. De lá para cá, muita coisa mudou.

 

No início do século XX, grande parte das rádios brasileiras se concentravam no Rio de Janeiro. Nos anos 1920, muitas delas transmitiam sambas cariocas, que eram difundido para todo o Brasil. O ritmo se popularizou e o estilo de se fazer samba do Rio de Janeiro se disseminou pelo país. O resultado dessa influência foi uma aproximação estética (massificação) da música.

 

 

O Samba Paulista, por exemplo, foi perdendo a referência do bumbo e passou a ser marcado pelo pandeiro e pelos instrumentos de cordas. Mesmo assim, o tempero de SP continuou presente nas letras, na temática e no sotaque. Desse samba brasileiro, feito em São Paulo, surgiram nomes como Adoniran Barbosa, Toniquinho Batuqueiro, Paulo Vanzolini,  Germano Mathias, Caco Velho, Jorge Costa, Hélio Sindô, Henricão, Vadico, Osvaldinho da Cuíca, Eduardo Gudin, Geraldo Filme, entre outros bambas, que não deixaram o samba morrer e fizeram música de primeira qualidade.

 

Hoje, o ritmo encontra espaço em projetos culturais, que reúnem novos músicos/compositores e perpetuam o samba em São Paulo. Os mais de 40 Projetos de Samba existentes fazem da capital paulista um reduto do samba no Brasil.

 

 

 

 

 

 

 

 

----------------- PROJETOS DE SAMBA ------------------

 

 

 

 

 

Os Projetos de Samba são espaços sem fins lucrativos em diversos cantos da cidade, que reúnem pessoas que gostam do ritmo: músicos, compositores, dançarinos e ouvintes. Simples assim.

 

Eles surgiram como uma reação à falta de espaço ao samba, após o boom do pagode romântico/comercial nos anos 1980. Os primeiros projetos surgiram no final dos anos 1990, com o Mutirão do Samba e o Nosso Samba de Osasco, mas só a partir de 2001, com a criação do Samba da Vela, é que ele tomou proporções maiores em São Paulo.

 

A difusão dos Projetos muitas vezes era feita no boca a boca. Quem frequentava um samba novo e via que era possível retomar esse espaço de convivência e criação, levava a ideia adiante, e fundava um samba em sua própria comunidade.

 

Assim como rap, o samba, desde sua origem (seja ele paulista, carioca, baiano...), tem como característica a abordagem local e cotidiana de suas letras. Adoniran Barbosa cantava sobre os cortiços; Geraldo Filme sobre o samba de Pirapora; Cartola e Nelson Cavaquinho sobre a Mangueira; Lupicínio suas magoas e Caymmi sobre o mar.

 

Com o surgimento do pagode e de um samba comercial, as comunidades não se sentiam mais representadas pelas músicas das rádios. A tese de mestrado de Eduardo Conegundes de Souza (Edu de Maria), professor do Curso de Educação Musical da UFSCar, mostra como as comunidades buscam uma representação através dos Projetos de Samba:

 

 

 

Durante a década de 1990 em meio a esse processo de afastamento do samba com relação às suas bases comunitárias e ao esvaziamento dos sentidos ligados a sua ancestralidade, percebemos um movimento no estado de São Paulo de recuperação da memória do samba, como uma busca de um retorno a suas relações comunitárias.

 

Passou a ocorrer nesse período a criação de núcleos de sociabilidade em torno do samba autodenominados por seus integrantes como "projetos" ou ainda "movimentos culturais". A base de formação dessas redes de sociabilidade alicerçadas no samba se encontra nas experiências culturais vividas por seus fundadores em meio às manifestações da cultura popular, somadas ao hábito de ouvir sambas mais tradicionais principalmente através dos registros fonográficos realizados prioritariamente nas décadas de 60 e 70.

 

[...]

 

Ao buscarem construir novos espaços de sociabilidade em torno do samba desligados da estrutura de agremiações carnavalescas ou de ambientes em que o samba se insere como produto mercadológico, (bares, casas noturnas, shows), isso demonstra que os espaços mercadológicos acima referidos passam por um processo comparativo que não os legitima como válidos dentro da busca de expressão desses sujeitos.”

 

[Título: Roda de Samba: Espaço da memória, Educação Não formal e Sociabilidade/ Unicamp/2007]

 

 

 

Eduardo Conegundes também é membro e fundador do Núcleo de Samba Cupinzeiro, Projeto de Samba fundado em 2001, em Campinas. Ele explicou que a ideia dos projetos não é nova: ela remonta o ambiente dos terreiros e dos ranchos carnavalescos, que eram espaços onde as pessoas de reuniam para cantar samba.

 

“A roda de samba como essa que a gente faz aqui, de certa forma, é a recuperação desse ambiente onde o próprio compositor, ou mesmo o interprete, vai cantar samba. Desse ambiente, depois, saíram os blocos e as escolas de samba”, explicou Conegundes, em entrevista.

 

Além de promover homenagens e a recuperação de antigas músicas, os Projetos de Samba têm o objetivo de incentivar o surgimento de novos compositores – tornando-se um ambiente intenso de produção.

 

As rodas são abertas à participação da comunidade. Músicos de outras regiões são convidados a participar. Letristas assumem os microfones e mostram suas composições nunca antes tocadas. Quase nunca a roda é exatamente a mesma, mas todos se entedem com a maior naturalidade.

 

"Me dá um La menor. E vai assim ó tchac tchac gnudumdum tchac tchac gnudumdum". 

 

É importante salientar que os Projetos não são contra o pagode ou outros ritmos, nem os consideram inferiores. O movimento busca a reconquista de um espaço que estava escasso na cidade.

 

“[O surgimento dos projetos] A gente não chama de resgate, porque o samba está em desenvolvimento. Ele está em processo, como toda a cultura. A gente se identifica com determinados compositores, com determinado tipos de samba que a gente ouve e gosta de tocar.

 

É uma questão de gosto e de identificação mesmo. A gente não odeia nenhum tipo de samba a gente só leva para roda o samba que a gente gosta de cantar e tocar. E que tenha a ver com nosso jeito de fazer e tudo mais”, explicou Conegudes.

 

 

 

VEJA ONDE ESTÃO OS PROJETOS DE SAMBA EM SÃO PAULO:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

----------------MUTIRÃO DO SAMBA-----------------

 

 

 

Nos anos 1980, o pop, o rock nacional, o pagode e o sertanejo eram os ritmos de maiores sucesso no país. No entanto, os sambistas sempre encontravam espaço para ouvir e tocar suas músicas em São Paulo. Os bairros do Bexiga, Barra Funda e Brás eram os redutos dos bambas da cidade.

 

“Nesse momento existia o bar da Beth e o botequim Camisa Verde e Branco, que eram ali na Barra Funda. Nós tínhamos alguns lugares assim [com samba], mas muito pouco. Eu saia na sexta-feira à noite e voltava sábado à noite. Você começava em um lugar e ai ia para outro, dava uma cabeça de samba aqui e o outro terminava”, contou  o compositor Douglas Germano, um dos fundadores do Mutirão do Samba (1997), considerado o precursor dos projetos de Samba em SP.

 

Em meados da década de 1990, o ritmo foi perdendo espaço. Os bares que tocavam samba ou fechavam, ou mudavam de público. Estava cada vez mais difícil fazer samba em São Paulo e o pagode conquistava cada vez mais adeptos

 

“De repente esses meios, inclusive as escolas de samba, passaram a ser inundadas por isso [pagode]. Você ia nas quadras de escolas de samba e você via um grupo de pagode aos moldes do Raça Negra tocando lá dentro”, disse Germano.

 

Entre os remanescentes dos que frequentavam os sambas, tinha uma patota que ia aos mesmos lugares: Douglas Germano, Carica, Luizinho SP, Milton Conceição, Paquera, Caio Prado… “Um bocado de gente que se reunia e compunha”. Entre um samba e outro, o grupo discutia as dificuldades de encontrar espaço para tocar. Algumas ideias iam aparecendo:

 

“Tinha um parceiro que era o principal responsável, o Antônio Carlos Moreira, que é um amigo de muito tempo, e teve a seguinte ideia: por conta da situação de você só ouvir falar de pagode, de você não ver mais samba... Esse pagode idiota, pagode romântico, ele falou assim. Vamos organizar nós mesmos”, contou Germano.

 

A ideia do Moreira era a seguinte: ligar pro Paulinho da Viola, Elton Medeiros, Carlinhos Vergueiro, João Nogueira e mais uma porção de gente consagrada que eles conheciam, e tentar organizar um grande movimento do samba, que ele batizou de Mutirão do Samba.

 

Douglas Germano concordou na hora, mesmo sem "ter a veia de produzir nada", como revelou na entrevista. A conversa não passou disso e a ideia acabou esfriando.

 

Algum tempo depois, Germano ligou pro Moreira e falou: “Pô, Moreira, vamos fazer a gente. Vamos fazer nosso samba. Você compõe, eu componho, o Paquera compõe, o Miltinho também compõe. Vamos fazer um esquema para cantar as nossas coisas.”

 

Assim, nasceu o Mutirão do Samba, em 1997. Um grupo de 32 pessoas – entre compositores, percussionistas de escola de samba e de botequim, instrumentistas e cantores. O grupo se reunia para compor e tocar.

 

O projeto durou três anos e resultou em um CD com nove músicas, que nunca vieram a público. As cópias dos CDs ainda estão guardadas na casa do cantor e compositor Douglas Germano.

 

O Mutirão acabou por desentendimentos entre os integrantes sobre como se autossustentar: uns queriam criar uma banda menor, que representasse os 32 para fazer show; outros queriam vender camiseta, contou Germano.

 

Nos anos de samba do Mutirão, ele  sobreviveu com doações voluntárias de seus participantes. O dinheiro ia para um fundo que era usado para pagar as gravações no estúdio.

 

A importância do Mutirão não está em sua produção musical, mas o que dele resultou. Dos integrantes da roda saíram outros projetos: Caio Prado fundou [concomitantemente com o Mutirão] o Nosso Samba de Osasco. Paquera, o Samba da Vela, em Santo Amaro. Inúmeras outras rodas e projetos tiveram um fôlego a mais a partir do samba desses 32 músicos.

 

 

 

 

 

 

--------------------PAGODE-----------------------

 

 

 

 

pagode

pa.go.de

sm (tâmil pagodi) 1 Templo pagão entre certos povos asiáticos. 2 O ídolo que adoram nesse templo. 3 pop Divertimento, bambochata, pândega. 4 popDebique, mangação, zombaria. 5 Mús Gênero musical que é uma contrafação do samba carioca. 6 Baile onde se tocam ritmos populares com acompanhamento de percussão, violão, cavaquinho. De pagode: em grande quantidade.

 

[FONTE: DICIONÁRIO MICHAELIS]

 

O termo “pagode” originalmente era usado para nomear os templos religiosos de certos povos asiáticos. Posteriormente, a palavra foi associada à festa, divertimento e música. José Ramos Tinhorão, jornalista, crítico musical e pesquisador musical brasileiro, em entrevista ao programa da TV Cultura, Roda Viva, explicou a origem da palavra:

 

“Eu descobri a palavra "pagode" numa peça do [Jorge] Ferreira de Vasconcelos [(1515-1585, teatrólogo e escritor português], de mil quinhentos e oitenta e pouco, com o sentido mesmo de lugar onde se vai para brincar e fazer música e tal. Muito provavelmente porque, como os portugueses foram os primeiros a chegar no Oriente, quando chegaram à Índia, dentro dos pagodes na Índia evidentemente havia orações. Então, aquilo é uma coisa inteiramente estranha para o português, provavelmente, e aquele barulho daquela música e daquelas coisas religiosas…”

 

De “pagode”  também eram chamadas as festas e comemorações feitas nos fundos dos quintais do subúrbio carioca. Festas regadas a comidas bebidas e samba. A exemplo disso, no bairro de Ramos, subúrbio carioca, surgiu nos anos 1960 um dos "pagodes" mais influentes do Brasil: o Bloco Carnavalesco Cacique de Ramos.

 

Das rodas de samba que tocavam na quadra do Cacique de Ramos saiu uma porção de bambas que se tornaram referência para a música brasileira: Jorge Aragão, Zeca Pagodinho, Sombra, Arlindo Cruz, Sombrinha, Denny de Lima, Luiz Carlos da Vila, Carlos Sapato, Neoci, Dida, Bira Presidente, Ubirany, Almir Guinéto, Ubirany e Sereno entre outros.

 

Entre os grupos remanescentes do Cacique de Ramos está o Fundo de Quintal. A partir do surgimento desse grupo, uma nova estética musical, tanto sonora, quanto na forma de apresentação, se espalhou pelo Brasil e foi amplamente reproduzido pela indústria fonográfica.    

 

“O Fundo de Quintal inaugurou um novo formato de samba, migrando do samba tradicional ligado às raízes negras para um samba de massa, para a cultura de massa. Desconheço no Brasil um grupo que tenha revelado tantos autores, compositores e talentos. Do Fundo de Quintal saíram Almir Guineto, Arlindo Cruz, Sombrinha, Mário Sérgio, Jorge Aragão…”

 

[Antônio Pinto, produtor e compositor musical brasileiro, em entrevista ao site Farofafá, em 25 de Abril de 2013]  

 

Após o sucesso do grupo Fundo de Quintal nos anos 80, as gravadoras apostaram no “pagode” como produto a ser comercializado. Esse pagode, no entanto, ganhou uma roupagem diferente para ter uma melhor aceitação de mercado: as letras se tornaram mais melódicas – assim como o sertanejo que era sucesso na época; e a harmonia ficou mais adocicada, com o uso de teclado sintetizadores - o que aproximava o estilo ao do pop.

 

A forma de apresentação dos grupos também foi mudada, a fim de viabilizar grandes shows. Os artistas passaram a ficar enfileirados, um ao lado do outro, com instrumentos adaptados para serem tocado de pé (ex: keytar – teclado em forma de guitarra). A formação, assim como o figurino e a coreografia, tinha influência dos conjuntos vocais norte-americanos como os Temptations, Stylistics, Take 6 e Four Tops.

 

Com essa fórmula de sucesso, a partir da segunda metade da década de 1980, no Brasil, e principalmente nos subúrbios paulistanos, aconteceu o boom do pagode romântico/comercial.

 

Ex: Raça-Negra (1983 – São Caetano do Sul – SP), Só Preto Sem Preconceito (1984 - Rio de Janeiro), Exalta Samba (1985 - São Paulo), Grupo Raça (1985 - Rio de Janeiro – RJ), Negritude Junior (1986 - Carapicuíba – SP), Katinguelê (1988 - São Paulo), Só Pra Contrariar (1989 – Uberlândia – MG), Revelação (1991 - Rio de Janeiro), Os Travessos (1993 - São Paulo), Art Popular (1993 -1º CD - São Paulo), Soweto (1993 - São Paulo), Molejo (1993 – Rio de Janeiro – RJ), Jeito Moleque (1998 – São Paulo – SP).

 

"O "pagode comercial", uma mistura de jovem guarda com pandeiro ao fundo, assegurou uma melhor arrecadação de direito autoral no Brasil, podendo ser notado através da vendagem de milhões de cópias de determinados grupos e artistas, principalmente mineiros, paulistas e cariocas." (Alguns Aspectos da MPB - Euclides Amaral - EAS Editora 2014)

 

 

 

 

 

 

 

----------------------SAMBA EM SÃO PAULO---------------------------

 

 

 

O Samba Paulista nasceu em Pirapora do Bom Jesus, feito por escravos das lavouras cafeeiras, que acompanhavam seus senhores na festa do Bom Jesus.

 

 

A tradição da festa de Pirapora começou no século XVIII, quando uma imagem do Senhor do Bom Jesus, encontrada no rio Tietê, foi considerada milagrosa por ter feito um homem mudo voltar a falar. Desde então, a notícia do milagre se espalhou e a cidade começou a atrair romeiros de todo o Estado. Enquanto os senhores rezavam, os escravos faziam seus batuques nos “barracões” onde eram alojados.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Musicalmente era bem do diferente do samba que conhecemos hoje. O compasso é fortemente marcado pela zabumba (bumbo), instrumento central e mais importante do cortejo e que dá um tom grave à música. Por essa razão, e pelo ambiente onde ele era feito, essa vertente do ritmo ganhou o nome de Samba de Bumbo ou Samba Rural.

 

Mesmo com o fim da escravidão, Pirapora continuou sendo o reduto do samba em São Paulo, como mostra o artigo de Rodrigo Siqueira, para o portal UOL:

 

 

“O fim do regime oficial de escravidão levou parte dos negros libertos das fazendas de café do interior do Estado à capital paulista. Com eles, trouxeram os costumes caipiras e os sambas que praticavam no interior. Tem-se notícia, segundo Osvaldinho da Cuíca, de que esses ex-escravos da capital passaram a freqüentar os festejos de Pirapora do Bom Jesus no começo do século 20.

Mesmo morando na região central da cidade de São Paulo, principalmente na Barra Funda, no Bexiga, na Liberdade e Baixada do Glicério, os negros egressos das regiões cafeeiras cultivavam as tradições interioranas. Todos os anos, na festa de Pirapora, participavam do encontro de batuqueiros durante o festejo religioso.”

 

[Link: http://musica.uol.com.br/ultnot/2006/02/09/ult89u6252.jhtm]

 

Ao longo da história, o ritmo viveu seus momentos de altos baixos. Nas primeiras décadas do século XX, foi duramente perseguido pela polícia, enquadrado como vadiagem. Quem era pego fazendo samba podia ir preso. A repressão policial impulsionou a criação das escolas de samba, que eram espaços pré-estabelecidos para fazer a batucada.

 

Depois, durante o governo de Getúlio Vargas, passou a ser encarado como símbolo da identidade nacional, sendo amplamente difundido pelas rádios e gravadoras; e absorvido pelas elites. 

 

 

 

 

“Delegado Chico Palha, sem alma sem coração

Não quer samba nem curimba (candomblé) na sua jurisdição

 

Ele não prendia, só batia, ele não prendia, só batia (refrão)

 

Era um homem muito forte, com um gênio violento

Acabava a festa a pau e ainda quebrava os instrumentos

 

Os malandros da Portela da Serrinha e da Congonha

Pra ele eram vagabundos e as mulheres sem-vergonhas

 

A curimba ganhou terreiro, o samba ganhou escola

Ele expulso da Políca vivia pedindo esmola”

[“Delegado Chico Palha”  - Nilton Campolino/Tio Hélio]

 

 

 

 

 

-------------------NA CAPITAL PAULISTA---------------------

 

 

 

Na cidade de São Paulo, no início do século XX, o Largo da Banana era o reduto das rodas de samba e de capoeira (tiririca). Localizado na região do bairro Barra Funda, o largo deu lugar ao Memorial da América Latina e ao Viaduto do Pacaembu.

 

O nome teve origem no comércio de bananas na região. No local passava a Estrada de Ferro Sorocabana, que trazia os frutos vindos do interior. Eram nesses trens também que chegavam os escravos recém-alforriados à capital, entre o final do século XIX e o início do século XX.

 

No entorno do Largo morava a população mais pobre de São Paulo, que procuravam, nas zonas centrais, oportunidades de emprego e moradia barata.

 

“Em um primeiro momento estas famílias de negros se concentraram destacadamente no Bexiga, na Baixada do Glicério e na Barra Funda. Procedendo-se a um levantamento da presença dos negros nestas áreas, percebe-se que ali existiam moradias que funcionavam como pontos de encontro, vislumbrando-se redes de sociabilidade, laços de parentesco, amizade, compadrio e relações afetivas informais que marcavam a vida social e o processo de resistência nesta época.”

 

[Tese: As territorialidades do samba na cidade de São Paulo - Alessandro Dozena, 2009 - USP]


 

A própria estrada de ferro era uma opção de emprego. Os negros trabalhavam como carregadores e ensacadores das mercadorias que circulavam no pátio e nos armazéns.

 

Para completar a renda do trabalho, eles vendiam, ali mesmo, as bananas que sobravam no carregamento dos vagões – que eram,

muitas vezes, tudo o que recebiam pelo trabalho.

 

Entre um turno e outro, os trabalhadores e curiosos da região se reuniam em rodas e, batucando os caixotes das mercadorias, faziam samba e jogavam tiririca.

 

Foi ali que umas das figuras mais importantes para o samba paulista ouviu suas primeiras batucadas: Geraldo Filme (1927 - 1995).

A mãe de Geraldo tinha uma pensão nos Campos Elysios e fazia marmita para fora. Era ele, ainda pequeno, que ia entregar a comida. No caminho, parava no Largo da Banana para assistir ao samba.

 

“Lá no Largo da Banana, na Barra Funda...  o ordenado era, o soldo era pequeno. Então eles ganhavam tantos cachos de banana, por cada tantos cachos carregados, eles ganhavam um. Então eles colocavam ali na praça para o comércio... E na hora em que folgavam um pouquinho, eles armavam um samba. A gente era moleque, ficava olhando os “véio”, eles não deixavam entrar na roda, sabe: ‘Sai daqui moleque, chega pra lá.. Agente ficava apreciando os coroas e a gente guardou muita coisas, né, e deu continuidade. Para mim era 37 (1937), eu tinha meus dez anos, depois de entregar as marmitas da pensão da velha e depois corria para lá…”

[Depoimento de Geraldo Filme para o programa Ensaios da TV Cultura]

 

Geraldo Filme frequentava o Samba de Pirapora desde pequeno – sendo, inclusive, batizado em um samba de lá. O cortejo virou inspiração para diversas músicas. Entre elas, a Batuque de Pirapora, que conta a história do preconceito que os negros sofriam na festa religiosa e o ambiente festivo dos barracões.


 

 

Eu era menino

Mamãe disse: vamos embora

Você vai ser batizado

No samba de Pirapora

Mamãe fez uma promessa

Para me vestir de anjo

Me vestiu de azul-celeste

Na cabeça um arranjo

Ouviu-se a voz do festeiro

No meio da multidão

Menino preto não sai

Aqui nessa procissão

Mamãe, mulher decidida

Ao santo pediu pediu perdão

Jogou minha asa fora

Me levou pro barracão

Lá no barraco

Tudo era alegria

Nego batia na zabumba

E o boi gemia

Iniciado o neguinho

Num batuque de terreiro

Samba de Piracicaba

Tietê e campineiro

[Batuque de Pirapora - Geraldo Filme]

 

***

 

Foi também na Barra Funda, em 1914, que aconteceu o primeiro cordão carnavalesco da cidade, o Grupo Carnavalesco da Barra Funda, criado por Dionísio Barbosa – negro da primeira geração de escravos livres que veio pra capital em busca de oportunidades. Dionísio havia morado dois anos no Rio de Janeiro, entre 1912 e 1914, onde conheceu os ranchos carnavalescos e as Bandas Marciais da cidade.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

De volta à terra da garoa, fundou o cordão misturando elementos do samba rural (batucada, bumbo) com os das marchas (baliza). Os

homens desfilavam pelas ruas vestidos de verde e branco. O cordão foi o embrião do que é hoje a Escola de Samba Camisa Verde e Branco.

 

O Grupo Carnavalesco da Barra Funda, foi o primeiro movimento cultural organizado dos negros. No ano em que foi inaugurado, a elite brasileira (inspirada pelo carnaval de Veneza) já organizava blocos de carnaval, porém estes eram exclusivos para classe mais abastada.

 

“A influência dos cordões foi determinante para as primeiras escolas de samba de São Paulo na mesma medida em que os ranchos influenciaram as escolas cariocas (MORAES, 1978). Assim, nas primeiras escolas de samba paulistanas, houve a mescla de elementos dos cordões com características musicais e coreográficas do samba carioca, que diferenciavam a escola de samba dos demais agrupamentos carnavalescos. As primeiras escolas de samba de São Paulo surgiram em meados da década de 1930. A “Primeira de São Paulo” é considerada por alguns como a pioneira, mas a primeira escola a se firmar no carnaval paulistano foi a “Lavapés”, fundada em 1937 por Madrinha Eunice e Chico Pinga, no bairro da Liberdade.”

 

[O samba e o carnaval paulistano- Francisco de Assis Santana Mestrinel (Chico Santana) - Artigo publicado na edição nº 40 de fevereiro de 2010 – Arquivo do Estado].


 

***

 

 

A partir da década de 30, nas gestões dos prefeitos Fábio Prado (1934-38) e Prestes Maia (1938-45), São Paulo deu início a um intenso processo de urbanização. As regiões Brás, Bela Vista e Liberdade, por exemplo, foram retalhadas por viadutos e avenidas. A construção das obras viárias resultava na expropriação da camada mais pobre, que morava nas zonas centrais, em sobrados e cortiços.

 

Com o chamado “progresso”, o centro começou a se valorizar e a classe trabalhadora foi sendo empurrada para a periferia da cidade.

 

 

 

 

Se o senhor não tá lembrado
Dá licença de contá
Que aqui onde agora está
Esse edifício "arto"
Era uma casa véia
Um palacete assombradado

Foi aqui seu moço
Que eu, Mato Grosso e o Joca
Construímos nossa maloca
Mas um dia, nóis nem pode se alembrá
Veio os homi c'as ferramentas
O dono mandô derrubá

[Saudosa Maloca – Adoniran Barbosa]

 

 

 

 

 

Esse processo gradativo de expansão, impulsionado também pela construção das avenidas marginais (Pinheiros e Tietê), foi criando novos núcleos urbanos, afastado do centro.


 

“Assim, por intermédio dos novos arranjos configurados nas periferias, os negros estabelecem pontos de encontro a partir das escolas de samba, dos campos de futebol de várzea, das rodas de capoeira, dos terreiros de candomblé e umbanda; concretizando uma presença marcante nestas áreas.

[...]

Ao mesmo tempo em que ocorre o deslocamento da população mais pobre em direção aos bairros periféricos, as escolas de samba começam a ganhar força nesses bairros. Se antes estavam concentradas próximas à região central, passam também a se localizar em bairros situados além das marginais”


[Tese: As territorialidades do samba na cidade de São Paulo - Alessandro Dozena, 2009 - USP]

 

 

A partir de então, o samba se espalhou por São Paulo -  periferias, centro, Grande São Paulo, Grande ABC...  Nas palavras de Nelson Sargento, o samba agoniza, mas morre! Hoje os Projetos de Samba cumprem o papel cultural, sem fins lucrativos, de disseminar a música e incentivar os novos compositores.   

 

 

 

 

 

 

Samba,
Agoniza mas não morre,
Alguém sempre te socorre,
Antes do suspiro derradeiro

 

Samba,
Negro, forte, destemido,
Foi duramente perseguido,
Na esquina, no botequim, no terreiro.

 

Samba,
Inocente, pé-no-chão,
A fidalguia do salão,
Te abraçou, te envolveu,
Mudaram toda a sua estrutura,
Te impuseram outra cultura,
E você não percebeu,
Mudaram toda a sua estrutura,
Te impuseram outra cultura,
E você não percebeu.

 

[Agoniza mas não morre - Nelson Sargento]


 

 

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